O número de casos de Covid-19 continua a aumentar na
África do Sul e o confinamento obrigatório foi prolongado por mais duas
semanas. Moçambiçanos relatam aumento da violência durante as últimas semanas
de pandemia.
Relatos de uso excessivo da força pela polícia
sul-africana para garantir o confinamento obrigatório no país multiplicam-se
nos últimos dias. Cidadãos usam as redes sociais para denunciarem o que
consideram casos de abuso de autoridade em meio à pandemia de Covid-19.
"Aguardávamos impacientemente pela abertura do
supermercado. Éramos muitos e, por estarmos ansiosos e com fome, não obedecemos
a distância de um metro. Então, a polícia começou a disparar balas de borracha.
Nas ruas, quando saímos por causa das diversas necessidades que enfrentamos,
somos obrigados a correr por medo de sermos mandados parar por militares”,
relata Amélia Matusse, moçambicana radicada na África do Sul.
O confinamento está também a dificultar a vida de Elton
Dovo, comerciante moçambicano de viaturas. Está neste momento encurralado em
Joanesburgo, à espera do levantamento das interdições para levantar as suas
viaturas importadas do Japão.
"Está tudo muito difícil para nós que atravessamos
fronteiras quase todos os dias para levar os carros comprados em Durban para Moçambique.
Tudo está parado e perdi conta quantas viaturas tenho dentro do parque fechado.
A minha vida está parada. E assim é difícil”, lamenta.
A Cadeia de Máxima Segurança da província de East London
é o novo epicentro de contágio, com 76 casos positivos. Entretanto, a
dispistagem do novo coronavírus poderá tornar-se mais difícil nos próximos
dias, com a entrada da época fria, que traz consigo a gripe.
Coronavírus na África do Sul
As autoridades sul-africanas apontam para uma redução nos
casos importados do novo coronavírus e um aumento de infeções locais. Esta
terça-feira (14.04), a África do Sul regista 2.415 mil infetados e 27 vítimas
mortais da Covid-19.
O Governo de Pretória garante que, com a extensão do
confinamento obrigatório, ficou adiado para setembro o pior cenário de
contaminação pela covid-19, anteriormente previsto para julho.
Mas as consequências das medidas extraordinárias já se
fazem sentir na vida da população. Especialistas prevêem que a economia
sul-africana pode vir a sofrer uma queda de 10 por cento e cerca de um milhão
de pessoas poderão perder os seus postos de trabalho em resultado do
confinamento obrigatório.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipa que a
África subsaariana enfrente a primeira recessão dos últimos 25 anos, vendo o
Produto Interno Bruto (PIB) cair 1,6% este ano devido à pandemia provocada pelo
novo coronavírus.
"O crescimento na Nigéria e na África do Sul deve
ser de -3,4% e 5,8%, respetivamente", lê-se no documento, que acrescenta
que "no seguimento do dramático declínio nos preços do petróleo desde o
início do ano, as perspetivas de curto prazo para os países degradaram-se
significativamente, com a média da queda dos países exportadores de petróleo a
cifrar-se nos 4,4%".
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